As acusações do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, contra humoristas italianos pelas críticas que recebe em programas de TV do país desataram um enfrentamento entre ele e a oposição, que o acusa de “delirar”, fazer “listas de proscritos” e querer mudar a lei que controla a publicidade em época eleitoral.
“O programa Rockpolitik, de Adriano Celentano, é apenas o último episódio de uma sistema de comunicação impressa e televisão que desde 2001 [quando Berlusconi ganhou as eleições] atacou sistematicamente o que governo faz e o que eu faço’, afirma o primeiro-ministro em um livro que será publicado em breve.
Berlusconi se referia ao novo programa do famoso cantor, transmitido na semana passada pela rede de TV pública RAI, e que desatou uma tempestade política pelos comentários feitos sobre a liberdade de expressão.
Berlusconi não mencionou apenas Celentano e deu os nomes de outros comediantes famosos que em seus programas de televisão ou de que participam, “se irritam” contra ele, entre os quais estão Sabina Guzzanti, Serena Dandini, Gene Gnochi, Corrado Guzzanti, Dario Vergassola e Enrico Bertolino.
O político e dono o império midiático Fininvest-Mediaset acrescentou que o acusam de “controlar” as seis principais redes de TV [os três da RAI e os três privados da Mediaset], “quando só é preciso assistir a RAITRE para ver que toda a grade está contra mim e que o Canale 5 (da Mediaset) dá mais razão em sua informação à oposição do que a nós”, diz Berlusconi.
Mentira
Berlusconi acrescentou que a técnica da oposição é “repetir continuamente uma mentira até que a faz aparecer verdade” e que depois as redes de TV a tomam como “verdadeira”.
O líder da oposição Romano Prodi denunciou que Berlusconi voltou a fazer “listas de proscritos”, como em abril de 2002, quando o primeiro-ministro exigiu que fossem expulsos da RAI os jornalistas Enzo Biagi e Michele Santoro e o comediante Daniele Luttazzi, a quem acusou de ter usado contra ele a rede estatal de forma “criminosa”.
Prodi disse que as acusações de Berlusconi são “ridículas” e que é o único empresário que se lamenta de sua empresa, “‘mas sempre ganha mais dinheiro”.
O conselheiro de administração da RAI, Carlo Rognoni, disse que o primeiro-ministro “delira” e que não se deve prestar atenção nele.
O comunista Marco Rizzo disse que é “francamente ridículo que o primeiro-ministro e dono da quase totalidade do sistema televisivo e editorial italiano pretenda se passar por vítima”.
Segundo Renzo Lusetti, da coalizão de centro-esquerda Margarita, por trás das acusações de Berlusconi esconde-se seu conflito de interesse como político e empresário televisivo e seu desejo de mudar a lei conhecida como “Par Condicio”, que proíbe a veiculação de anúncios televisivos pagos durante a campanha eleitoral.
A lei rejeita a possibilidade da emissão de anúncios pagos pelos partidos, mas permite as chamadas “mensagens autogestionados” gratuitos que a pública RAI terá a obrigação de transmitir.
24/10/2005 – Folha Online (Brasile)